sábado, 19 de dezembro de 2009

A Bela do Sono de Pedra

Ao amanhecer, uma pedra morre estirada no meu caminho. Não que eu me importe com a morte, ou qualquer outra ocorrência tomada banal pela poesia. A irrelevância daquela pedra seria absoluta - como tantas pedras que passam por nos ou que morrem todos os dias - se não fosse por sua estonteante beleza de um robusto fino, um curvo reto, um ponte-agudo abaulado, de um brilho que de tão cintilante é fosco em sua multifacetada superfícies única. Paro diante daquela pedra como se magnetizasse.


Sei que quando quiser posso esquivar-me e desviando pula-la, sair da cama e seguir em frente. Mas, ali passo a eternidade, olhando-a em seu sono profundo como Narciso as avessas revirando a imaginação.


E como a navalha a cortar meus olhos, logo vem o vil coveiro a despertá-la e cavar-me a rotina. Nunca consegui explicar ao senhor da razão porque sempre chego atrasado no trabalho.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Princesa Independente e O Príncipe Bêbado

Quem sabe um bêbado apaixonado sinta saudade. Quem sabe entre os tropeços da rua chegue a casa e arrastando-se ligue à amada só para falar que está bêbado e que nunca vai assumir que sente saudades.

Mas se a ela não estiver mais para ouvir e se ele nunca puder dizer? Mas se ele se desesperar, ligar a cama e dormir na conversa? Mas se a realidade um sonho for e se palavras forem apenas ilusão? Talvez ele acorde e com ressaca encontre o já murcho bilhete com a seguinte saudação: Boa noite meu amor!

Sempre haverá uma cama quente para os amantes sensatos. Mas ninguém nunca descobriu o enredo das loucas paixões.