sábado, 19 de dezembro de 2009

A Bela do Sono de Pedra

Ao amanhecer, uma pedra morre estirada no meu caminho. Não que eu me importe com a morte, ou qualquer outra ocorrência tomada banal pela poesia. A irrelevância daquela pedra seria absoluta - como tantas pedras que passam por nos ou que morrem todos os dias - se não fosse por sua estonteante beleza de um robusto fino, um curvo reto, um ponte-agudo abaulado, de um brilho que de tão cintilante é fosco em sua multifacetada superfícies única. Paro diante daquela pedra como se magnetizasse.


Sei que quando quiser posso esquivar-me e desviando pula-la, sair da cama e seguir em frente. Mas, ali passo a eternidade, olhando-a em seu sono profundo como Narciso as avessas revirando a imaginação.


E como a navalha a cortar meus olhos, logo vem o vil coveiro a despertá-la e cavar-me a rotina. Nunca consegui explicar ao senhor da razão porque sempre chego atrasado no trabalho.

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