terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sonho de uma Noite Solitária

Ontem precisei de um cobertor para me proteger do frio que estava, não no mundo, mas dentro de mim. O sol iluminava meu tédio da solitária noite de luar. A lua alimentava meu sonho de um dia despertar.
Coisas que só quem vive a madrugada sabe explicar. Vento que acaricia o rosto. Mão que mata carências. Olhar que se perde entre estrelas, em uma galáxia distante que mora meu coração.
Sortilégios de sol-dado aos flertes como lanças, que não machucam, mas marcam a estrada que queremos seguir entre nuvens e trovões. Insaciável sede nublada de um cinza que não quer empalidecer.
Hoje acorde-ei no mundo como gota, como sereno despertar de noites roxas e dias anil. À pintar o quadro da vida junto a milhares de outras gotas, que se exaltam em relevo ou se mesclam em busca de uma nova cor para o seu viver.
E no museu da vida este dia será apenas mais um quadro, mais quadrado que amanhã. Na promessa de um dia todas as cores despertarem e recriarem o sol e a lua em um pincel, que fará nenhuma nuvem precisar mais empalidecer-se ao chorar ou sorrir.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Os Homens que Fabricam Tapetes Persas

Perdi o chão e você nem notou, continuou caminhando. Eu há tempos já era um tapete pra você. Sentado na cama seus pés sobre o tapete, enquanto eu chorava no chão. O branco do teto projetava alguma esperança que não era lembrança, mas algum sonho irrealizado. As franjas do tapete acariciavam o piso frio, reivindicando alguma solidez e ternura. Ainda que dilacerado, sua superfície macia ainda dava conforto aos pés, tratado-os na lianesa da seda de alguma borboleta que um dia voou. No que ainda havia de puro em si, imaginava tapetes que levitavam e contra todas as leis sublimavam os problemas estando acima do ar. Os olhares se cruzaram, ela sabia exatamente o que a prendia no chão. Por traz da poeira pesada, que o passado deixou, estavam os grandes pés que um dia acariciou, subindo pelas pernas a procura de uma liga estável que por vezes se camufla de solução. E traçando a trama em tessitura, o tapete à coluna se enrolou, o sufocando em seu próprio álibi, do libido que lhe colocou no chão. Enterrado pela maldição de alguma gata persa.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Quem Não Cabe a Distância

Carne expondo o fruto caldoso caindo a disseminar-se e apodrecer a superfície que o toca. A ardência é a mistura de tudo que há de bom e ruim, se é que a vida pode se resumir em prazer. Idealizar um amor que lhe chame lhe chame do mesmo é, por vezes, não querer um amor, mas um sussurro. E ainda assim nada disso é um dom. Não há motivos para não cair, mesmo assim não se pode flutuar. Se é tão obvio que nem todo fato é uma verdade, será necessário derramar tanto sangue para sentir o tremor da pele?. Cegos guiados por respirações ofegantes, que só no tato conhecem a si.

sábado, 19 de dezembro de 2009

A Bela do Sono de Pedra

Ao amanhecer, uma pedra morre estirada no meu caminho. Não que eu me importe com a morte, ou qualquer outra ocorrência tomada banal pela poesia. A irrelevância daquela pedra seria absoluta - como tantas pedras que passam por nos ou que morrem todos os dias - se não fosse por sua estonteante beleza de um robusto fino, um curvo reto, um ponte-agudo abaulado, de um brilho que de tão cintilante é fosco em sua multifacetada superfícies única. Paro diante daquela pedra como se magnetizasse.


Sei que quando quiser posso esquivar-me e desviando pula-la, sair da cama e seguir em frente. Mas, ali passo a eternidade, olhando-a em seu sono profundo como Narciso as avessas revirando a imaginação.


E como a navalha a cortar meus olhos, logo vem o vil coveiro a despertá-la e cavar-me a rotina. Nunca consegui explicar ao senhor da razão porque sempre chego atrasado no trabalho.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Princesa Independente e O Príncipe Bêbado

Quem sabe um bêbado apaixonado sinta saudade. Quem sabe entre os tropeços da rua chegue a casa e arrastando-se ligue à amada só para falar que está bêbado e que nunca vai assumir que sente saudades.

Mas se a ela não estiver mais para ouvir e se ele nunca puder dizer? Mas se ele se desesperar, ligar a cama e dormir na conversa? Mas se a realidade um sonho for e se palavras forem apenas ilusão? Talvez ele acorde e com ressaca encontre o já murcho bilhete com a seguinte saudação: Boa noite meu amor!

Sempre haverá uma cama quente para os amantes sensatos. Mas ninguém nunca descobriu o enredo das loucas paixões.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Barra de Tarefas - Responder

As pessoas que aparecem do nada, gostam de levar bofetada. A terra remexida, suja a roupa e volta à face. Uooow!!! Olha essa foto antiga! Olha essa franjinha que cortei porque...não tinha razão. Saudades também... Mentira! Com a correria da vida a gente acaba... descartando o lixo. Se insistes em perguntar: Estou bem, como sempre!!! Há coisas chatas, mas, se quer saber rio muito, mais. Eu e amigos, sem amigos, aqui, na Terra do Nunca. E tu comes faculdade e trabalho? E a vida? Alguns mudaram por ai... esses tempos... arrumam trabalho, produzem eventos. Ver as pessoas tomando seus rumos, não é engraçado!!! Parece final de filme hollywoodiano. Última vez que fui, a Terra das Recordações, vi dos teus, não lembro onde e não me importo. Tudo já, não parece mais, tão gigante!!! Porque só eu não cresço? Bom ter noticias, eu deveria dizer? Não me beijes e rotina para tu também!!!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Apenas Rotina

Meu namorado tem criado um estranho hábito. Todos os fins de tarde, ele senta ao portão de minha casa. Onde permanece até que eu lhe dê de porta na cara e diga-o que não pode entrar. Então, ele pula a janela, que está sempre aberta, e se acomoda em minha cama. Ao amanhecer, veste as meias e se prepara para sair. É quando me jogo de ombros e imploro que fique. Ele, por sua vez, com paixão me joga na cama e sai pela porta da frente. O dia é só rotina. Ao entardecer vejo-o sentado novamente à porta, esperando a hora de invadir minhas janelas.