quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Os Homens que Fabricam Tapetes Persas

Perdi o chão e você nem notou, continuou caminhando. Eu há tempos já era um tapete pra você. Sentado na cama seus pés sobre o tapete, enquanto eu chorava no chão. O branco do teto projetava alguma esperança que não era lembrança, mas algum sonho irrealizado. As franjas do tapete acariciavam o piso frio, reivindicando alguma solidez e ternura. Ainda que dilacerado, sua superfície macia ainda dava conforto aos pés, tratado-os na lianesa da seda de alguma borboleta que um dia voou. No que ainda havia de puro em si, imaginava tapetes que levitavam e contra todas as leis sublimavam os problemas estando acima do ar. Os olhares se cruzaram, ela sabia exatamente o que a prendia no chão. Por traz da poeira pesada, que o passado deixou, estavam os grandes pés que um dia acariciou, subindo pelas pernas a procura de uma liga estável que por vezes se camufla de solução. E traçando a trama em tessitura, o tapete à coluna se enrolou, o sufocando em seu próprio álibi, do libido que lhe colocou no chão. Enterrado pela maldição de alguma gata persa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário